terça-feira, 3 de abril de 2012

Desvelando o Hárem


(Um texto interessante, viabilizado por Gisele Bomentre - www.giselebomentre.com.br )Visto pelo Ocidente,o harém é uma gaiola dourada com mulheres encobertas e misteriosas um jardim proibido, (Harém=Proibido) que esconde dos profanos as suas delícias.

              Logo vem à mente, delicadas odaliscas a espera do seu sultão em dias passando sempre iguais, aspirando voluptuosas tragadas de fumo de um narguilé.

              Esta fantasia não é apenas cultivada no Ocidente, hoje mesmo quem vive em Istambul imagina a vida no palácio como um conto das mil e uma noites habitado por tantas shehrazads todas elas se parecendo com odaliscas de Ingres.

              Não se sentiam prisioneiras antes, como não se sentiriam livres agora. O Harém não era um cárcere, mas um universo paralelo,com suas regras e seus equilíbrios ,onde deixar entrar um homem qualquer, exceções feitas às crianças, eunucos e alguns parentes íntimos, era uma violação imperdoável. 


             A ala proibida do palácio escondia um sistema aceito e perfeito, que palpitava ao redor das mulheres, mulheres fortes, que suportavam o destino do mundo permanecendo sempre um passo atrás. A beleza nada valia no Harém, era necessário ser inteligente, tão inteligente a ponto de não perceberes que o eras. Não era essencial a beleza da mulher, mas sua cultura, de companhia agradável, capaz de entreter o sultão com os prazeres da conversação, depois dos da carne.


             Por essa razão passavam o dia todo estudando e trabalhando, tocando e recitando as orações do Corão; somente assim até mesmo a última das escravas podia tornar-se a Kadin, a favorita, ganhando a confiança do Sultão.


             O Harém,, aquele mundo que se acreditava fora do mundo se revela ao invés disso o centro nevrálgico do Império, o lugar onde vinha a se estabelecer a política que influenciava todo o reino. Existia um jogo de poder enorme, ilimitado, e isso naturalmente criava inveja,ciúmes.


             Ao redor de cada Kadin, orbitava uma corte de criadas, e entre elas frequentemente se desencadeavam pequenas e grandes guerras, que não raramente envolviam também os eunucos, e se degeneravam em agressões violentas: das deformações provocadas por veneno, até abortos provocados e homicídios.


            Ao contrário do que se crê, o Palácio não era trancado, podiam sim sair com a cabeça descoberta depois de oito anos, levando como única lembrança um colar com uma inscrição na parte interna testemunhando que haviam pertencido ao Harém e haviam conquistado sua liberdade.

             Quem saia encontrava fora um futuro brilhante, pois sua instrução e as capacidades refinadas no Harém lhes asseguravam um casamento importante.


             Mas nenhuma delas esquecia seu passado e todas, na hora da morte, pediam para serem sepultadas com aquele colar.


             O fascínio do Harém tem algo de mágico que encanta mesmo a uma distância secular. Os tecidos decorados com arabescos dourados, os samovares, os incensários, as imaculadas cortinas esvoaçantes, os narguilés. Sem falar na atmosfera de cumplicidade, tensão erótica e sedução ainda acendem nossa imaginação.


(texto do diretor de cinema turco Ferzan Ozpetek, quando do lançamento do seu filme Harem Suare, sobre um dos haréms do último império da Turquia).

Transcrito do Jornal Carta do Líbano-  de Fuad Naime.


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